Economia – Batedores de açaí capacitados pela Secon planejam empreendimentos

Desde a colheita até a venda, quem conhece os verdadeiros cuidados pelos quais o fruto do açaí deve passar aposta no retorno lucrativo de se trabalhar com a venda do produto. É o caso do comerciante Carlos Costa Junior, 25 anos, que iniciou os trabalhos com a plantação de açaí no município de Cametá e agora participa do curso Boas Práticas para Manipulação e Higienização do Açaí, promovido pela Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Economia (Secon).

“A princípio eu comprei um terreno em Cametá para fazer o plantio e a colheita para vender as peneiras. Mas meu desejo foi passar para outra etapa, a de vender ele já batido, por isso me inscrevi no curso para pegar o conhecimento necessário e dar andamento aos negócios. O que espero agora é aprendizado”, afirmou Carlos.

O curso teve início nesta segunda-feira, 26, e segue até 7 de julho, contando com a parceria da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Educação Técnica e Tecnológica (Sectet), dentro do programa Pará Profissional. As aulas são ministradas por técnicos do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), das 17h às 21h, no próprio Senai.

De acordo com o coordenador da ação pela Secon, João Gustavo Loureiro, “o curso é voltado, prioritariamente, para os batedores de açaí dos mercados e feiras livres de Belém. No entanto, reúne pessoas de todas as áreas interessadas em montar o próprio negócio”, explicou.

“Este curso aborda desde o manejo do açaí até a produção artesanal e industrial, com foco na manipulação higiênico-sanitária com ênfase na técnica do branqueamento, que é uma das preocupações da Casa do Açaí e da Vigilância Sanitária Municipal, que é a erradicação da doença do barbeiro”, enfatizou o coordenador.

Aptidão – A certificação para quem participa do curso tem a abrangência federal, com supervisão da Prefeitura de Belém, por meio da Casa do Açaí, no ensino da técnica do branqueamento, responsável por higienizar o açaí e eliminar o Trypanossoma cruzi, protozoário agente transmissor da doença de Chagas.

A professora universitária Rosângela Felix, 46 anos, mora no bairro do Telégrafo e conta que se inscreveu no curso juntamente com o marido e o sogro para apostar em um novo segmento empreendedor. “Eu e minha família somos muito consumidores de açaí. Então, com a necessidade que detectamos no nosso bairro devido à qualidade do açaí, eu senti uma deficiência e apostei com meu marido na ideia de entrar neste ramo. E com esse incentivo da Secon em capacitar as pessoas para trabalhar com o fruto, para trazer essa qualidade para o consumidor final, é muito interessante”, disse a professora.

Rosângela contou que o local para a venda do açaí já está pronto, e o curso é o passo que faltava para dar início às vendas. “A família toda mergulhou nesse empreendimento, que, sem dúvida, por meio do curso é uma grande experiência para que a gente leve ao nosso bairro um açaí de qualidade, além de ser uma nova forma de renda para a família”, afirmou.

Visão empreendedora – E quem já imaginou ver circulando pela cidade a bandeirinha vermelha que fica nas esquinas de Belém, anunciando que no local há uma venda de açaí? A novidade é uma ideia do empresário Heron Amaral, 48 anos, que após passar pelo mesmo curso de manipulação desenvolveu o Açaí do Heron Truck, em funcionamento há cerca de três meses apenas em eventos, sem ainda circular pela cidade.

O estilo de lanchonete itinerante que conquistou o público paraense ganhou uma adaptação bem regional com a ideia do empresário. “Quando estive na praia, reparei na quantidade de carros de lanches que passavam à minha frente. Eram tantas opções!”, lembrou. “Com esse boom que os foods tiveram em Belém, as pessoas foram aprimorando as ideias, pensando naquilo que o consumidor desejaria ter ao seu alcance. Foi aí que eu pensei em levar para este mesmo consumidor o queridinho do paraense”.

Heron já trabalha com a venda de açaí há mais de 24 anos, e foi o primeiro a receber o selo de qualidade “Açaí Bom”, por meio do Departamento de Vigilância Sanitária da Secretaria Municipal de Saúde de Belém (Sesma). “Com essa experiência da venda e as técnicas de higiene e boas práticas de manipulação, pensei na possibilidade de bater o açaí na hora, com o consumidor conferindo tudo de perto”, ressaltou ele.

Para se enquadrar às necessidades básicas exigidas pela vigilância sanitária, o trailer do Heron teve que se enquadrar ao que exige o Decreto Estadual nº 326/2012, que define os itens de um estabelecimento produtor de açaí, além de seguir as normas do Decreto Municipal nº 85.056/2016 que disciplina o licenciamento dos veículos automotores adaptados, os food trucks.

Segundo o proprietário, agora falta muito pouco para estacionar o food truck por Belém. “Estamos neste processo final de liberação de algumas licenças para poder finalmente botar o nosso produto à venda para a população”, esclareceu Heron.

Aprovado – A gerente da Casa do Açaí, Camila Miranda, avalia que o Food Truck do Heron possui todos os equipamentos necessários para o processamento do fruto. “Dentro do trailer ele conta com uma esteira de catação, com tanques de lavagem e o branqueador, com isso ele consegue produzir uma bebida de qualidade e apta para o consumo”, afirmou Camila. “Com esta inovação quem ganha é a população, pois ela terá à disposição um ponto de açaí itinerante, que cumpre todas as exigências de fabricação”, completou.

Resultado – Para concretizar o que antes era apenas uma ideia rascunhada em papel, Heron investiu bastante para deixar o trailer como imaginava. Foi em Goiás que ele encontrou uma empresa que o ajudou a dar início à construção do “açaí móvel”. “Posso dizer que o investimento está à altura do serviço que estamos proporcionando às pessoas. Por exemplo, somente nos equipamentos o valor chegou a R$ 20 mil”, informou Heron.

Para a advogada Fernanda Pinheiro, 22 anos, moradora do bairro de Nazaré, se o carro estivesse parado na porta do seu condomínio, certamente sua família seria freguesa. “Açaí é nossa cultura e a gente está acostumada a comer todo tipo de alimento que vendem nesses carros de lanche, mas não esperava que alguém ia ter uma ideia tão boa quanto esta”, comentou a advogada. “E este foi um bom incentivo da Prefeitura, que através de um departamento adequado faz a fiscalização dos alimentos”.

Boas ideias – Quem tiver outras ideias relacionadas ao açaí, como a do Heron, pode procurar a Casa do Açaí e participar do curso para manipulador do fruto, que ocorre todas as terças e quintas-feiras das 15h às 18h. E para abrir um ponto, a palestra ocorre na última quinta-feira de cada mês.

A Casa do Açaí funciona na travessa do Chaco,1490, entre avenida Duque de Caxias e travessa Visconde de Inhaúma. É um espaço criado pela Prefeitura de Belém para capacitar batedores de açaí, receber denúncias e prestar informações sobre o trabalho da Vigilância Sanitária e da Secon em relação ao açaí. A Casa também abriga o escritório da Associação dos Batedores Artesanais de Açaí de Belém (Avabel).